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Todos por um!!!
Não apenas na música clássica, mas também no rock, pop ou samba, há muito o que se aprender sobre trabalho em equipe. Quantos exemplos de parcerias bem-sucedidas nós temos na MPB, quando a soma das partes é infinitamente maior e mais rica que seus elementos, separadamente?
No palco, nos estúdios de gravação ou qualquer outro lugar em que o ideal da música esteja presente, podemos perceber a atuação fundamental de cada integrante da equipe, exercendo sua liderança em momentos alternados. É um entrosamento que nasce basicamente da visão compartilhada de um objetivo comum, sempre maior que os interesses individuais de exposição, lucro ou reconhecimento.
Com o Capital Inicial, Marcelo Sussekind teve a oportunidade de trabalhar em vários projetos, desde o CD “Todos os Lados”, gravado em 1989, até o CD/DVD acústico MTV de 2000 e o CD “Rosas e Vinho Tinto”, lançado em 2002. Em pouco mais de uma década, foi possível acompanhar o amadurecimento da banda, que atualmente vive um dos melhores momentos de sua carreira:
— Na época do CD “Todos os Lados”, havia uma ligeira divisão. De um lado, Fê, Flavio e Loro queriam fazer um som mais rock, enquanto o Dinho e o tecladista Bozzo Barretti queriam levar mais para o pop/eletrônica. Apesar dessa diferença de opiniões, foi um disco bom de ser feito.
Pra começo de conversa, não há espaço para a mesquinhez, tipo: “eu fiz 87,2% do trabalho e mereço maior destaque”. Qualquer participação é válida e justifica a assinatura em igualdade de condições. Saber valorizar o outro é devolver ao solo a fertilidade necessária para as próximas colheitas. Parceiros de carteirinha acreditam na abundância. Esse espírito colaborativo fica evidente quando Léo fala sobre a divisão de responsabilidades:
— A melhor forma de compor em parceria é começar com um brainstorm. Falo disparates até não poder mais. E sempre, no meio deles, há algo aproveitável. Mas às vezes você tem uma música que emperrou e o outro só dá aquela arrumada, sem necessariamente ter feito muita coisa. Isso é parceria também e vale da mesma forma.
O melhor exemplo da visão sustentável de Léo Jaime vem de uma história curiosa, relacionada a um de seus maiores sucessos. A canção “A Vida Não Presta”, que emplacou nas rádios em 1985, foi composta em parceria com Leandro e Selvagem Big Abreu que, segundo o próprio Léo, tiveram uma participação indefinível:
— “A Vida Não Presta” foi uma música que fiz em quatro minutos. A compus do jeito que ela é hoje. Eu tinha dois parceiros comigo na hora, e foram eles que escreveram a letra, aprovaram os versos e a melodia. Em tese, eu fiz tudo sozinho, mas será que a música teria ficado igual se eles não estivesse ali? Os considero parceiros nessa canção com igual responsabilidade.
Diante do intangível, quantos que se dizem “parceiros” adotariam uma postura parecida? Nos negócios, na política ou em qualquer outro meio, quantos seriam capazes de dividir as recompensas com tamanho desprendimento?
Loucura? Vacilo? Ingenuidade? Muito pelo contrário! Para extrair o melhor desta lição, é necessário compreender que não se trata de generosidade com os amigos, doação, filantropia ou qualquer coisa do gênero. É uma atitude que denota um alto grau de consciência. Ele sabe que não há como avaliar a importância de um olhar, do apoio e da cumplicidade que havia naquele momento. A simples presença dos parceiros serviu para transmitir segurança e tranqüilidade, permitindo que o gênio criativo do compositor fluísse e pudesse ser registrado imediatamente, com o mínimo ruído.
Se eles não estivessem ali, a própria determinação do Léo Jaime em concluir o trabalho poderia estar comprometida. Sua atenção poderia se voltar para outra coisa, a composição poderia seguir um outro rumo, enfim, não há como saber.
O fato é que, ao decidir pela parceria em igualdade de condições, além de tirar um peso da consciência (de ter sido injusto), ele pôde reforçar os laços de confiança com seus parceiros, que continuaram participando ativamente da sua carreira.
Certamente, a coerência das ações e consistência de caráter do compositor foram determinantes para a formação de novas alianças e progressos, que ele jamais conseguiria se optasse por seguir sozinho.
Às vezes, a preocupação excessiva em garantir alguns tostões a mais no bolso nos leva a comprometer a vida longa (e cheia de frutos) de uma parceria de sucesso.
Outra coisa: no processo criativo em que duas ou mais pessoas se propõem a trabalhar juntos, é preciso saber negociar com inteligência. Querer ganhar sempre é sinal de imaturidade e desgasta as relações:
— Não luto muito por idéias que não sejam realmente muito boas. Se aquela pessoa disse que não, vamos procurar outra possibilidade. Deve haver melhor. Não me chateio. Se um parceiro luta muito por uma idéia, acho que é bom acatar. Eu só insistiria se fosse uma coisa que me deixasse muito convicto. E vale apostar no parceiro sempre!
As conversas com Marcelo Sussekind e Léo Jaime se estenderam por outros assuntos, com a mesma relevância. Muitos outros artistas, produtores e empresários da MPB têm me concedido entrevistas parecidas, para o novo livro que me propus a escrever.
Tem sido uma parceria muito gratificante, que vem confirmando a minha intuição. Eu estava certo! O universo musical e os “loucos” artistas têm muito a nos ensinar sobre sustentabilidade, ética, motivação e todos os assuntos que estão na moda dentro das empresas, mas que poucos executivos são realmente capazes de compreender.
Espero que as lições que extraímos da arte consigam nos mostrar um novo caminho, longe dessa competição desleal, do individualismo cego e o lucro imediato a qualquer preço.
* Sergio Buaiz
buaiz@chance.com.br
Publicitário, escritor e conferencista. Presidente da Chance Network, é membro do conselho editorial da Revista VENCER
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