quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A Arte De Trabalhar Em Equipe!!!

Escrito por Sergio Buaiz* no RHPortal - Janeiro, 2007 - 31:02


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Todos por um!!!

Não apenas na música clássica, mas também no rock, pop ou samba, há muito o que se aprender sobre trabalho em equipe. Quantos exemplos de parcerias bem-sucedidas nós temos na MPB, quando a soma das partes é infinitamente maior e mais rica que seus elementos, separadamente?

No palco, nos estúdios de gravação ou qualquer outro lugar em que o ideal da música esteja presente, podemos perceber a atuação fundamental de cada integrante da equipe, exercendo sua liderança em momentos alternados. É um entrosamento que nasce basicamente da visão compartilhada de um objetivo comum, sempre maior que os interesses individuais de exposição, lucro ou reconhecimento.

Para o músico, engenheiro de som e produtor Marcelo Sussekind, esse é um princípio básico para o sucesso de qualquer grupo musical:

— Sempre que estou reunido com os músicos, faço questão de lembrar que a banda é mais importante do que cada um individualmente. Sozinho, ninguém chega a lugar algum.

Marcelo foi guitarrista do grupo Erva Doce, que fundou em 1981, juntamente com o tecladista Renato Ladeira. Entretanto, seu grande talento começou a ser mesmo reconhecido pelos trabalhos de produção artística que fez junto a grandes nomes do pop/rock nacional. A lista é extensa, e inclui desde o tremendão Erasmo Carlos, até Lulu Santos, Daniela Mercury, Ira!, Lobão, Paralamas do Sucesso, Engenheiros do Hawaii, 14 Bis, Mauricio Manieri, Bruno & Marrone, Guilherme Arantes, Ana Carolina e Jota Quest. 

Com o Capital Inicial, Marcelo Sussekind teve a oportunidade de trabalhar em vários projetos, desde o CD “Todos os Lados”, gravado em 1989, até o CD/DVD acústico MTV de 2000 e o CD “Rosas e Vinho Tinto”, lançado em 2002. Em pouco mais de uma década, foi possível acompanhar o amadurecimento da banda, que atualmente vive um dos melhores momentos de sua carreira:

— Na época do CD “Todos os Lados”, havia uma ligeira divisão. De um lado, Fê, Flavio e Loro queriam fazer um som mais rock, enquanto o Dinho e o tecladista Bozzo Barretti queriam levar mais para o pop/eletrônica. Apesar dessa diferença de opiniões, foi um disco bom de ser feito.

Em 1993, o vocalista Dinho Ouro Preto saiu do grupo para seguir em carreira solo. Segundo Marcelo, o afastamento do Dinho nada teve a ver com deslumbramento com a fama ou essa vontade de ganhar mais que os outros, muito comum quando vocalistas iniciam um trabalho solo. Era basicamente uma vontade de experimentar seu lado pop.

Isso explica o sucesso do retorno da banda em 1998, sem mágoas, que resultou na fase mais próspera da banda. A partir do acústico MTV, lançado em 2000, o Capital Inicial voltou com muita força à mídia, produzindo um hit após o outro. Marcelo Sussekind, que produziu aquele trabalho, destacou o trabalho em equipe:

— Na época do acústico, o astral estava ótimo. Todos conscientes do que deveria ser feito. Os arranjos foram feitos no local de ensaio por mim e pela banda. Apesar de ser o compositor da maioria das músicas e ter um voto forte, o Dinho sempre foi muito maduro e receptivo a idéias. O Capital é uma banda muito equilibrada. Todos encaram a superexposição do Dinho com naturalidade e também contam com a força do Haroldo (empresário da banda), que ajuda muito nas decisões.

A história do Capital Inicial serve para mostrar que, apesar das disputas e desejos individuais de cada artista, a música sempre é resultado de um bom trabalho em equipe. Por isso, compositores, instrumentistas, produtores e todos os demais agentes da indústria fonográfica sabem alternar, como poucos, o exercício da liderança. Caso contrário, não conseguiriam se manter unidos por tanto tempo.

Vale apostar no parceiro sempre!!!

Esta é uma das frases mais brilhantes do músico e compositor Léo Jaime, que aprendi a admirar ainda mais, após um rápido bate-bola sobre criatividade e parcerias.

De primeira, “O Pobre / Conquistador Barato” mostrou que tem valores muito além da música e da escrita. Ele sabe, como ninguém, trabalhar em equipe. Léo já compôs com diversas figurinhas carimbadas do pop-rock nacional, como Herbert Vianna, Tavinho Paes, Leoni, Alvin L., Paulinho Lima e Dalto, entre outros.

Navegando por essa teia de conexões artísticas, é possível identificar traços muito comuns entre aqueles que, de fato, conseguem dividir para multiplicar.

Pra começo de conversa, não há espaço para a mesquinhez, tipo: “eu fiz 87,2% do trabalho e mereço maior destaque”. Qualquer participação é válida e justifica a assinatura em igualdade de condições. Saber valorizar o outro é devolver ao solo a fertilidade necessária para as próximas colheitas. Parceiros de carteirinha acreditam na abundância. Esse espírito colaborativo fica evidente quando Léo fala sobre a divisão de responsabilidades:

— A melhor forma de compor em parceria é começar com um brainstorm. Falo disparates até não poder mais. E sempre, no meio deles, há algo aproveitável. Mas às vezes você tem uma música que emperrou e o outro só dá aquela arrumada, sem necessariamente ter feito muita coisa. Isso é parceria também e vale da mesma forma.

O melhor exemplo da visão sustentável de Léo Jaime vem de uma história curiosa, relacionada a um de seus maiores sucessos. A canção “A Vida Não Presta”, que emplacou nas rádios em 1985, foi composta em parceria com Leandro e Selvagem Big Abreu que, segundo o próprio Léo, tiveram uma participação indefinível:

— “A Vida Não Presta” foi uma música que fiz em quatro minutos. A compus do jeito que ela é hoje. Eu tinha dois parceiros comigo na hora, e foram eles que escreveram a letra, aprovaram os versos e a melodia. Em tese, eu fiz tudo sozinho, mas será que a música teria ficado igual se eles não estivesse ali? Os considero parceiros nessa canção com igual responsabilidade.

Diante do intangível, quantos que se dizem “parceiros” adotariam uma postura parecida? Nos negócios, na política ou em qualquer outro meio, quantos seriam capazes de dividir as recompensas com tamanho desprendimento?

Loucura? Vacilo? Ingenuidade? Muito pelo contrário! Para extrair o melhor desta lição, é necessário compreender que não se trata de generosidade com os amigos, doação, filantropia ou qualquer coisa do gênero. É uma atitude que denota um alto grau de consciência. Ele sabe que não há como avaliar a importância de um olhar, do apoio e da cumplicidade que havia naquele momento. A simples presença dos parceiros serviu para transmitir segurança e tranqüilidade, permitindo que o gênio criativo do compositor fluísse e pudesse ser registrado imediatamente, com o mínimo ruído.

Se eles não estivessem ali, a própria determinação do Léo Jaime em concluir o trabalho poderia estar comprometida. Sua atenção poderia se voltar para outra coisa, a composição poderia seguir um outro rumo, enfim, não há como saber.

O fato é que, ao decidir pela parceria em igualdade de condições, além de tirar um peso da consciência (de ter sido injusto), ele pôde reforçar os laços de confiança com seus parceiros, que continuaram participando ativamente da sua carreira.

Certamente, a coerência das ações e consistência de caráter do compositor foram determinantes para a formação de novas alianças e progressos, que ele jamais conseguiria se optasse por seguir sozinho.

Às vezes, a preocupação excessiva em garantir alguns tostões a mais no bolso nos leva a comprometer a vida longa (e cheia de frutos) de uma parceria de sucesso.

Outra coisa: no processo criativo em que duas ou mais pessoas se propõem a trabalhar juntos, é preciso saber negociar com inteligência. Querer ganhar sempre é sinal de imaturidade e desgasta as relações:

— Não luto muito por idéias que não sejam realmente muito boas. Se aquela pessoa disse que não, vamos procurar outra possibilidade. Deve haver melhor. Não me chateio. Se um parceiro luta muito por uma idéia, acho que é bom acatar. Eu só insistiria se fosse uma coisa que me deixasse muito convicto. E vale apostar no parceiro sempre!

As conversas com Marcelo Sussekind e Léo Jaime se estenderam por outros assuntos, com a mesma relevância. Muitos outros artistas, produtores e empresários da MPB têm me concedido entrevistas parecidas, para o novo livro que me propus a escrever.

Tem sido uma parceria muito gratificante, que vem confirmando a minha intuição. Eu estava certo! O universo musical e os “loucos” artistas têm muito a nos ensinar sobre sustentabilidade, ética, motivação e todos os assuntos que estão na moda dentro das empresas, mas que poucos executivos são realmente capazes de compreender.

Espero que as lições que extraímos da arte consigam nos mostrar um novo caminho, longe dessa competição desleal, do individualismo cego e o lucro imediato a qualquer preço.

* Sergio Buaiz
buaiz@chance.com.br
Publicitário, escritor e conferencista. Presidente da Chance Network, é membro do conselho editorial da Revista VENCER

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