Desde ontem, graças ao Vasco, não leio desgraça nos jornais. Claro que o resultado para os vascaínos foi um sucesso funesto, mais não estou falando nisso. Falo de tudo o que resta aos brasileiros nos jornais matutinos... Suportar desgraças diárias!!!
Os tradicionalistas podem não gostar, mas a tendência de alguns de nós, brasileiros, para o catastrofismo é uma das heranças culturais lusitanas que persiste na, digamos assim, “mentalidade nacional média”. Eu disse “média” e não mediana, pois esse tipo de mentalidade é característico, particularmente, dos extratos médios da sociedade, incluindo políticos, intelectuais, jornalistas e formuladores de opinião. Bom... É só ler jornal para ver que isso é uma verdade!
Entre um café e outro no trabalho, uma amiga, vendo as notícias num portal noticioso disparou um comentário simplesmente primaz: “agora que acabaram as eleições, o Vasco foi para a segundona, o Obama ganhou e o César Maia perdeu, o que a imprensa noticiará?”.
De fato, num país - melhor “num planeta” - onde a imprensa vive da desgraça e da miséria, é uma afirmação realmente pertinentíssima. Desgraça vende jornais, dá audiência a moribundos e decadentes telejornais, dá visibilidade a revistas oportunistas e golpistas. Em suma: desgraça vende.
Mas, dinheiro à parte, por que a desgraça atrai tanto? Eu diria que, apesar da moral cristã agindo durante quase dois milênios sobre o Ocidente, o mal continua sendo gerado pelo homem e por ele mesmo posto dentro de si.
Evitando os maniqueísmos, uma definição de mal: não uma força etérea como quer a religião e o misticismo de maneira geral, mas sim qualquer ação que perverta uma situação e a torne nociva para os eventuais participantes; ou uma idéia que perverta ou deprima os ânimos e o fluxo de pensamentos, que desvie os raciocínios do considerado senso crítico pela via da comoção; apresentar desgraças em série é subverter o senso crítico pela comoção, povo comovido faz liames estúpidos, procuram culpados para faltas coletivas e por aí vai.
Assim, queridos vascaínos, muito obrigados! E agradeço sem nenhum falso moralismo, afirmando que toparia ver meu querido Flamengo passando pelo mesmo, caso isso fosse sinônimo de um bom tempo sem ler desgraças pela manhã.
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