quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

PEGUEI A VASSOURA E FUI VARRER A CASA

Recebi este texto por e-mail... Elaborado por Edison Borba, da Equipe do Projeto Inovar para Crescer, sofrido e verdadeiro, mostrando uma realidade que muitos não querem ver.

-"Pedi para enterrarem minha mulher grávida, junto com minha filha de três anos. Elas morreram soterradas e abraçadas. Eu não quis separá-las".

...Palavras de um homem, suposto morador de Santa Catarina, uma das vítimas das chuvas, descrevendo a sua tragédia.

Sexta-feira, 28 de novembro. Mais um final de semana. Mais um final de mês. Voltei do banco, onde fui pagar mais uma conta, entre tantas que tenho que pagar todos os meses. Ainda faltam dois dias para terminar o mês e o dinheiro já terminou. Agora é usar cheque especial, cartão de crédito e outros artifícios que nos ajudam a empurrar mais uma conta, mais uma dívida para mais adiante. Mais, mais, mais e mais!

Foi com esse desânimo, que voltei para casa. A semana foi cansativa, cheia de afazeres. Idas e vindas a diversos lugares. Uma semana de chuva. Muita chuva! Chuva persistente. Chuva teimosa. Brincando com o sol. Brincando com a gente. Fazendo poças, que irão se transformar em piscinas para os mosquitos. Mais um verão de sol, praia, turistas, biquínis, gente bronzeada e dengue.

Tudo isso e muito (muito) mais. "Coisas" pequenas, problemas do dia-a-dia, que somados, nos fazem ter vontade de sumir ou sucumbir nesta cidade que ainda é maravilhosa.

Foi com esse humor, ou melhor, mau humor, que liguei a TV. O apresentador, após amedrontar a todos com a queda das bolsas e os perigos que a crise americana está trazendo para o nosso modesto salário, iniciou uma detalhada explicação sobre as enchentes no estado de Santa Catarina. Casas destruídas, lama, água, lágrimas, barro, móveis, roupas, água, destruição, choro, chuva, gente, entulho, sujeira, barcos, soldados, solidariedade, medo, crianças, corpos, morte, dignidade, ruas, água e água, barranco, barreiras, estradas, veículos, prejuízos, comida, fome, sede, tristeza, chuva e chuva, lamentos, sofrimentos, ajuda, isolamento, solidariedade, doentes, perdas, sonhos, paredes, pertences, saques, aproveitadores, dinheiro, banco, conta, ajuda, desconfiança, canoas, lixo, rato, crianças, mulheres, bebês, homens, rostos, confiança, fé, dignidade, esperança, conformismo - Deus!

Mergulhei neste mar de informações. Tristes detalhes de vidas rompidas e sonhos interrompidos. Famílias desfeitas e casas destruídas. Desconstruções das construções humanas.

O barro cobrindo vidas. Enterrando famílias. Soterrando cidades.

Foi nessa complexidade de informações e emoções, que ele apareceu na tela da TV. Rosto sofrido. Olhos sem lágrimas. Um conformismo cortante. Um homem sem nada. Tudo que lhe pertencia, a chuva levou. O barro enterrou. Documentos, móveis, fotos, panelas, roupas, sonhos, esperanças, pequenas lembranças acumuladas em toda a sua vida. Brinquedos da filha, retratos da família, cheiro de casa, perfume da mulher, o gosto da comida caseira, os risos, as vozes, os cantares, os sons, as cores, a vida que foi vivida.

-"Pedi para enterrarem minha mulher grávida, junto com minha filha de três anos. Elas morreram soterradas e abraçadas. Eu não quis separá-las".

Minha sexta-feira difícil! Meus problemas da semana! Meus questionamentos! Minhas dívidas! Minhas dúvidas! O que fazer com tudo o que aconteceu comigo, diante daquele homem.

Peguei a vassoura e fui varrer a casa!

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