Qual é o seu problema? Por que fazer o dinheiro sobrar e trabalhar para você? Estas são algumas perguntas que comumente faço hoje em dia. A primeira, incisiva e objetiva, gera as mais diversas reações com quem estou conversando. A segunda, mais profunda e que envolve objetivos e metas pessoais, sempre vem acompanhada de um breve silêncio. Como você reagiria diante destas perguntas?
Quero discutir neste texto o instinto de defesa que criamos diante de uma realidade adversa. Este instinto transforma-se na negação. Uma reflexão simples é capaz de explicar meu ponto de vista sobre a questão: quando procuramos, por livre e espontânea vontade, um pronto-socorro ou um médico, estamos aceitando (e assumindo) que temos um problema de saúde. Com o dinheiro, nem sempre somos tão sinceros e inteligentes. Por que?
Aprendi que problemas sempre têm solução. Mais, aprendi que para resolvê-los é preciso enxergá-los, encará-los. Isso soa como simples obviedade, hipocrisia ou moralismo para você? Cuidado com as conclusões sobre sua própria capacidade de sanar seus problemas financeiros, pois é justamente a negação o maior perigo das famílias endividadas.
A negação é invisível e gradual! E acho que estou aqui, 01h37 do dia 16 de abril, de 2009, escrevendo este texto, exatamente por isso!!!
É muito mais fácil disfarçar um problema financeiro que um importante sintoma de saúde deficiente, não acha? Transformar o tema “dinheiro” em algo único e exclusivo de seus momentos em frente ao espelho pode ser muito perigoso. Quando estamos sozinhos, fica fácil criar justificativas para nossos recentes atos, além de falsas metas, esquecidas quando agimos em sociedade ou junto da família.
A negação tem outra característica ainda mais nociva: sozinhos, raramente percebemos que nossas decisões são capazes (e muitas vezes responsáveis) de atrapalhar nossos planos de longo prazo. O efeito gradual do “está tudo bem” nos impede de atacar as questões que colocam em risco a saúde financeira da família. O dia passa, a semana termina, o mês finalmente avança. Parece estar “tudo bem”. Parece!
Escutei hoje na CBN o Sr. Dave Ramsey, especialista norte-americano em finanças pessoais e criador da metodologia My Total Money Makeover, dizer que sempre faz o seguinte comentário em seus programas semanais, veiculados em diversas rádios de lá:
“É comum perdermos gradualmente nossa saúde física, mental e financeira. Soa como um cliché, mas isso acontece porque o inimigo do ‘melhor’ não é ‘o pior’. O inimigo do ‘melhor’ é o ‘está tudo bem’. Negar impede que possamos realmente enxergar os problemas”
Notou o uso da palavra gradualmente? É cômodo aceitar as coisas como elas estão, sem discutir as possibilidades de transformá-las. Inúmeros indivíduos encontram-se acomodados em sua zona de conforto, mesmo reconhecendo que ela não é confortável o bastante. Será que decidir mudar é tão mais difícil do que desistir de mudar? Infelizmente, sim!
Desistir de mudar! Acredite, este é o primeiro obstáculo de quem realmente precisa melhorar sua vida financeira. Qualquer tentativa de ajustar o orçamento doméstico, de investir melhor seu dinheiro serão meros modismos se não há razão para o esforço contínuo. Quando a questão não é apenas a quantidade de dívidas, mas também sua reação diante delas, a coisa fica mais séria.
Caímos, agora sim, na segunda pergunta lá do primeiro parágrafo. Por que fazer o dinheiro sobrar? Porque vale a pena. Porque criar oportunidades é uma opção disponível para todos. Porque é interessante. Porque é gostoso. Porque faz bem.
Preencher uma planilha de controle de gastos (e como eu tento fazer isso...) é uma tarefa fácil, embora trabalhosa. O verdadeiro obstáculo não está na complexidade das variáveis financeiras disponíveis no mercado ou nas ferramentas cada vez mais completas, mas no desinteresse pelo tema, vivido por grande parte da população. Ter razões suficientemente fortes para investir e poupar significa pensar no futuro da família. Sobreviver diante da frustração, causada por aquele desejo ainda não realizado, é sinal de maturidade.
Nenhuma ferramenta de apoio financeiro funciona sem que existam objetivos, metas e alguma maturidade.
Se tudo que escrevi parece óbvio, cuidado! Há muito mais psicologia na economia do que podemos acreditar. Ignorar isso é, de novo, dar abrigo à negação.
Vai por mim... Sei do que estou falando!!!
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