quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Dona Geralda, auto-estima e cidadania

Ela conta que passou a vida catando papel pelas ruas e se acostumou a
não ser vista ou quando notada, mal tratada. "As pessoas confundiam os
catadores de papel com o lixo. Achavam que nós estávamos fazendo
sujeira e não limpando. "Como eu não tinha consciência do que fazia e
nem auto-estima, achava que não tinha saída e que minha vida seria
sempre do mesmo jeito. E por isso bebia muito." - diz ela!

Na década de 1980, Dona Geralda levou um susto quando todos os
barracos em que os catadores de papel viviam na avenida do Contorno
foram queimados sem aviso. Sem saber o que fazer, os catadores, na
época cerca de 20, aceitaram a ajuda da Pastoral de Rua. "Foi quando
tudo mudou. Começamos a trabalhar nossa autoestima e nos organizar com
a ajuda da Pastoral. Parei de beber. Foi um novo começo." Com a força
de vontade e organização desse pequeno grupo, nascia há 19 anos, a
Asmare, Associação dos Catadores de Papel.

A associação, referência mundial no que faz, atende hoje 230
catadores, ajudando cerca 1,5 mil pessoas. São quase 500 toneladas de
papel por mês. Dona Geralda foi finalista do prêmio Cláudia de 2009,
já foi a Washington dar palestras no Banco Mundial e a Nova York falar
na ONU. "O pessoal fica brincando que foram os meus cinco minutos de
fama", se diverte a catadora de papel que aprendeu a ler aos 40 anos.
"O tema da sustentabilidade está muito forte atualmente. Sempre cuidei
do meio ambiente, mas só fui descobrir isso mais tarde, quando
aprendi o que era cidadania."

Para ela, dar uma chance às pessoas e trabalhar a autoestima é
fundamental. "Quando a gente não se dar valor, não acha que vai
conseguir e se acostuma a não ser visto. A Pastoral de Rua recuperou a
minha autoestima, o que mudou a minha vida. Hoje eu faço o mesmo por
outras pessoas", resume.

Nenhum comentário:

Postagens populares