quarta-feira, 3 de junho de 2009

GESTÃO, AGENTE E PACIENTE DA COMUNICAÇÃO

Existe uma correlação positiva e direta entre a comunicação e o processo de gestão dentro das empresas. Mais aperfeiçoado este, mais intensa aquela. Esta correlação direta, que parece natural hoje, tem uma longa história de vicissitudes e reproduz, no universo empresarial, os fenômenos mais abrangentes do contexto socioeconômico em que as empresas trabalham.

Podemos iniciar o rastreamento destas histórias paralelas no final do século XIX, início do século XX. Foi nesse período, até a Segunda Grande Guerra, que os conceitos de tempo e movimento, criados por TAYLOR, instrumentaram o “fordismo” e sua divisão do trabalho em partes elementares, e as duas escolas, juntas, viabilizaram o funcionamento das linhas de montagem.

Ao mesmo tempo em que aumentaram a produção e a produtividade da fabricação, o sistema reduziu drasticamente as exigências de qualificação da mão-de-obra. Do ponto de vista da comunicação, significava que o operário estava pronto para produzir com um mínimo de informação. O ideal era que soubesse apenas o necessário para executar uma tarefa elementar. Dispensavam-se longos treinamentos e o convívio com os companheiros mais experientes. Foi mesmo considerado oportuno que ele conhecesse alguma coisa além da tarefa que realizava. Tudo contribuía para minimizar o volume de informação que o operário precisava ter ou que deveria circular na empresa.

A história moderna da gestão, contada pelos seus melhores autores, mostra que os anos da Segunda Guerra Mundial mudaram este panorama. Os métodos estatísticos permitiram controlar a gestão ao longo da linha de montagem. O controle da gestão evoluiu, mas os sistemas de comunicação continuavam bloqueados pelas características do trabalho em linhas de montagem.

Os anos 50 e 60 serviram para difundir e sedimentar os novos procedimentos de controle da gestão desenvolvidos pela indústria americana durante a Segunda Guerra Mundial.

É consenso, todavia, que estes conhecimentos ainda não estavam sistematizados, o que só começa a ocorrer nos anos 70. Como previsível, os métodos de gestão foram radicalizados. Tornam-se disciplinas inflexíveis, formalizadas, e o movimento pela gestão ficou engessado no estágio alcançado no final da década anterior. Laboratórios e centros de testes, em nome da gestão, tiranizaram as empresas.

Na década de 80, entretanto, começa a vir para o ocidente, modificada e melhorada, a onda revitalizadora que alguns técnicos estadunidenses, Deeming e Juran entre eles, ensaiaram na indústria japonesa. Foi neste momento que os laboratórios e centros de controle perderam o monopólio da gestão.

As novas idéias, muitas delas desenvolvidas durante guerra nas fábricas norte-americanas, estimulam a participação de todos e democratizam a questão da gestão dentro das empresas. Ironicamente, elas encontram mais receptividade no Japão derrotado enquanto são negligenciadas pela indústria americana.

Neste momento, teve início a Gestão pela Qualidade Total e o processo de comunicação, finalmente desatado, começou a exigir sistemas próprios, planejamento e ganhou um papel fundamental nos programas de gestão.

Um novo passo, mais largo e ambicioso, foi dado nos anos 90. Os sistemas da década anterior evoluem para o estágio do "Gerenciamento Integrado da Qualidade", uma sofisticação da Gestão pela Qualidade Total que pressupõe interação ainda maior entre todas as pessoas, entre todas as máquinas, com a comunidade e clientes, fornecedores e a sociedade em geral. A gestão, que já fora medida no produto final ou nas amostras colhidas ao longo dos processos de produção, é agora balizada por dois conceitos que abrangem todos os anteriores e vão além – a qualidade de vida e o desenvolvimento auto-sustentado. Em outras palavras, o processo industrial, do início ao fim, e os produtos que dele resultam, precisa ser bom para todos e respeitadores do meio ambiente.

Os sistemas de comunicação seguiram a mesma evolução dos sistemas de produção, ainda que de forma improvisada, arrastados e modificados mais pela realidade do que pelo planejamento.

Simplificando um pouco o problema, o "toyotismo" é a fórmula para superar no chão de fábrica as limitações do "taylorismo" e do "fordismo" no que diz respeito à gestão. A diferença básica está na valorização do trabalho em equipe e, portanto, na valorização da comunicação.

As mudanças se aprofundaram... A linguagem do próprio sistema de gestão pela qualidade começa a mudar. "Produzir qualidade", originalmente uma função especializada, atribuída ao corpo de engenheiros e técnicos, aos quais se entregava o comando do processo, passa a ser responsabilidade coletiva e a sua coordenação sai das mãos técnicas, deixa de ser privilégio daqueles que fazem o produto, e ganha status administrativo. O corpo técnico continua participando mas não dita a política de gestão para toda a empresa. Perde a onipotência para se tornar parte importante, e mesmo vital, mas ainda assim apenas parte de um sistema geral de gestão.

Esta modificação muda a linguagem do sistema de gestão – acaba o predomínio do jargão das ciências exatas. A ele se acrescenta, e de forma dominante, o jargão das ciências sociais. Psicologia, Sociologia, Antropologia (...) passam a ser tão importantes quanto tecnologia porque a gestão é, em grande parte, uma questão de engenharia social. Isto explica também por que é possível transferir experiência de uma empresa para outra. O homem é o denominador comum. A Engenharia Social requerida é a mesma, ainda que as Tecnologias sejam radicalmente diferentes.

Neste ponto e para melhor fixar o paralelismo que estamos traçando, é preciso recordar o significado da "aldeia global" sobre o mercado mundial. Foi a espetacular revolução dos meios de comunicação, a partir dos anos 60, que derrubou fronteiras políticas e ideológicas, reais e artificiais, viabilizou o mercado global, exacerbou a competição, obrigou e induziu, em última análise, à criação de todos os programas de gestão que estão em andamento.

O conceito da "aldeia global" – e talvez não por acaso – é um marco cronológico de um intenso período de transformações na questão da gestão. Um período que começa no início do século, com o florescimento do "taylorismo" e "fordismo" até chegar, nos dias de hoje, aos sistemas de Gestão pela Qualidade Total.

A "aldeia global", ou seja, a revolução da comunicação é sem dúvida a matriz do mercado global. É natural e lógico que a comunicação tenha um papel decisivo nos sistemas de gestão. A empresa e seu nicho de mercado é um exemplo reduzido e simplificado do que ocorre na economia e no mercado global.

A comunicação, como processo, acompanha esta evolução, ainda que por vezes com o passo atrasado. Pouco a pouco, a informação começa a percorrer caminhos que antes eram proibidos, a circular em direções que antes eram impossíveis, a alcançar toda a trama da empresa, afetando todos os personagens dentro dela.

O resultado da evolução de quase um século é um sistema de gestão abrangente - vertical na hierarquia da empresa, horizontal na cadeia produtiva. Nos dois sentidos este sistema depende de muitos fatores, mas, sobretudo, de uma intensa produção e rápida difusão de informações de comprovada utilidade operacional e formatação pedagógica.

Nesta perspectiva, a gestão que uma empresa pode oferecer é o resultado de um envolvente "BRAINSTORMING", um permanente esforço de comunicação para relacionar os cérebros e criar um "grande cérebro", mais competente na análise e mais eficiente na ação do que cada um dos cérebros contribuintes. A comunicação assim considerada é mais um dos processos de produção.

A tecnologia da informação, afinal, construiu os caminhos e os acessos para que todos possam se relacionar de forma imediata. Tornou possível montar um "sistema nervoso" que trabalha em tempo real e que permite a uma empresa reagir como uma unidade.

A gestão de um produto já pode ser modificada por uma decisão tomada nos escalões administrativos. As previsões de vendas calculadas na primeira hora podem ser implementadas imediatamente e podem modificar o ritmo de produção na hora seguinte.

Olhando para esta evolução histórica é possível tirar uma sugestão para as administrações empresariais: a gestão de uma empresa não pode ser melhor do que a gestão de seu sistema de comunicação.

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